domingo, 26 de março de 2006

As cigarras de Mao Tsé-tung & Lenin

Sabe aqueles bichinhos que irritam logo ao nascer do sol com seu canto insuportável e estridente? Não! Não estou falando daquele seu vizinho xarope que gosta de ouvir Calypso, mas das cigarras. Também conhecidas pelo nome científico de Cicada orni, e pertencentes à classe Insecta da ordem Homoptera, as cigarras conseguem ser quase tão chatas quanto aquele(a) vizinho(a) mala fã do Calypso.
Mas para que serve uma cigarra?
Todo mundo que cursou ao menos o primário sabe que todos os animais da natureza têm uma função específica, uma importância que faz com que o ciclo natural do ecossistema exista. Assim, o rato, a borboleta e o leão têm suas devidas funções de importância vital à natureza. Mas alguém se lembra de ter aprendido a função da cigarra?
Tudo que se sabe sobre este inseto bizarro é que se mantém enterrado por cerca de 14 anos e depois sai da terra para escalar uma árvore. Muda de casca e fica chiando até explodir! A despeito dessa vida totalmente sem graça, não há a menor função justificável de existirem! Parece ser um bicho fora do mundo animal...
Observando por esse prisma (sic...), fica mais fácil divagar sobre a função real deste inseto insuportável:
Se elas não são naturais, de onde vieram?
Porque cantam até explodir?
Porque ficam encubadas sob a terra?

Após anos de observação, acredito que finalmente posso responder essas questões: as cigarras fazem parte de um projeto comunista para dominar o mundo. Isso fica evidente se pensarmos que só existem cigarras no ocidente (quem já tiver visto uma cigarra em Singapura que se pronuncie!). Elas só habitam árvores que ficam próximas a apartamentos ou casas, com o objetivo de transferir informações sobre o mundo capitalista à China Vermelha. Quem já cometeu a nojeira de pegar uma cigarra, pôde perceber que ela é seca e praticamente oca. Ela não sente dor ao ter uma patinha ou uma asa retirada, por exemplo. A dedução mais correta é que se trata de um pequeno computador biocibernético bastante evoluído tecnologicamente (o que você acha que os vermelhos ficaram fazendo desde o fim da Guerra Fria, criando ovelhas? Só se forem as clonadas...)

Todos aqueles chiados que os insetos bolcheviques produzem são as informações sobre o dia-a-dia ocidental em forma de ondas de rádio criptografadas, captadas por satélites russos e traduzidos nos bancos de dados da antiga União Soviética (sim, ela ainda existe) para a central de dados chinesa. Para obter informações dos cromossomos dos burgueses ocidentais, esses animais eliminam pequena quantidade de líquido sobre as pessoas, que passam informações genéticas por meio de microondas aos satélites. Esse líquido é chamado ingenuamente pelo povo de "xixi de cigarra"... Depois que cada cigarra passou suas informações ao governo chinês, ela explode para que as informações armazenadas nela sejam destruídas! Está explicado aqui a função deste irritante biomicrochip. Alguém aí se prontifica a responder qual a função dos vizinhos malas que ouvem o Calypso?
Aqui o flagra de uma cigarra tirando seu disfarce de capitalista. Note a estrela vermelha tatuada no bíceps...

sábado, 11 de março de 2006

A luxúria

Um dia desses eu estava sonambulando pela Internet e encontrei um teste que se propunha a medir o nível dos pecados mais cometidos pela pessoa. Segundo o site (http://www.4degreez.com/misc/seven_deadly_sins.html), incontáveis almas têm sucumbido aos sete pecados capitais (avareza, gula, ira, preguiça, inveja, luxúria e soberba) e o questionário serviria para indicar para qual círculo do inferno você será enviado, ou para servir de alerta para que você mude sua atitude e promova uma mudança de comportamento.

Para minha surpresa, meu destino já foi traçado. Eu cometi (e cometo) muitos pecados, mas a luxúria é o que me condena ao inferno. De acordo com o que Dante descreveu na Divina Comédia, meu cantinho lá em baixo é o segundo círculo, onde as almas dos que pecaram por luxúria são continuamente arrebatadas e atormentadas por um horrível turbilhão de vento.


Nessa ilustração de Gustave Doré, Virgílio e Dante observam as almas (condenadas pelo pecado da luxúria) sendo carregadas pelo vento. No primeiro plano, pode-se observar um casal em destaque, Paolo e Francesca. Os dois eram cunhados adúlteros que foram surpreendidos e mortos pelo marido traído.


Dante classifica o pecado da luxúria como o menos grave de todos, colocando-o no círculo mais externo (o primeiro círculo não conta, pois nele só havia os sábios, os poetas, etc.). Isso é demonstrado pela compaixão que ele sente pelos pecadores, se emocionando com o relato de Francesca. A ventania foi a grande sacada poética para o pecado: em vida, os amantes eram levados por suas paixões, que os arrastava como o vento que agora os arrasta no inferno.

Ilustração de William Blake

Como o objetivo desse blog é servir de espaço para minhas divagações e devaneios insones, acho que não serei mal-compreendido se disser que acabo de me lembrar de um artigo do Frei Betto no qual ele trata justamente sobre os pecados capitais. De acordo com ele, a luxúria é a marca registrada da maioria dos clipes publicitários, em que jovens esbeltos e garotas esculturais desfrutam uma vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Ela nasce nos olhos, agita a mente e perturba o coração. O objeto do desejo nos aliena do amor enquanto projeto, aprisionando-nos no jogo narcisista da sedução.

Por mais que eu goste da visão romântica proposta por Dante (aquela de que os luxuriosos levam a vida embalados por suas paixões), tenho que concordar que a visão de Frei Betto é a que melhor se aplica à luxúria em nossos tempos. Ela, é a busca por usar coisas ou pessoas para suprir nossos desejos e necessidades e concentra-se apenas em si mesma; é de natureza egoísta e não aceita compromissos.

E a culpa é das supostas facilidades da vida moderna: elas nos transformaram em autômatos fetichistas controlados pela mídia. Desde pequenos somos programados a buscar a felicidade, mas, não sabemos como encontrá-la e se, por algum acaso do destino a encontramos, não sabemos reconhecê-la. Passamos a vida fazendo coisas que detestamos com o objetivo de ganhar dinheiro para que possamos comprar coisas de que não necessitamos para, assim, impressionarmos pessoas que não nos agradam.

Ah, vida real, como é que eu troco de canal...

domingo, 5 de março de 2006

Os dois filhos do Esmorecimento

Depressão e Desânimo são irmãos e filhos da Dona Desesperança e de Seu Esmorecimento. São como gêmeos siameses que compartilham o mesmo coração e que, de uma hora para outra, por meio de uma cirurgia, são obrigados a viver em corpos separados. Quando pequenos, ficaram aos cuidados de Dona Tristeza, que lhes ensinou os rudimentos do que seriam as leis mais importantes desse mundo: que é melhor ser triste; que a vida é uma sucessão de frustrações – é uma corrida na qual o último lugar já está reservado desde a largada; que nossa existência é a tentativa infinita de se conseguir atingir objetivos que jamais poderão ser alcançados.

Na adolescência, nas aulas com a professora Aflição, descobriram que a felicidade é um delírio que só conhece quem mais sofre. A vontade de se atingir a outra margem do rio por meio de um salto é uma ilusão dos ignorantes que sempre querem um maior querer. Aprenderam que foi essa ilusão que criou os deuses e todas as crenças. Que foi a mente com suas necessidades e maquinações que desesperou o corpo e o suprimiu.

Assim como os gêmeos uni vitelinos, dos quais se diz que podem compartilhar certas sensações, Depressão e Desânimo, cresceram dividindo o pesar e fracasso entre si. Pelo menos, foi isso o que aconteceu quando Desânimo conheceu Esperança e por ela se apaixonou. Esperança surgiu como uma promessa de redenção e redefinição de tudo o que Desânimo havia conhecido até então. Entretanto, Depressão não entendia porque seu irmão se interessara por alguém tão fraco, alguém tão... tão enganado sobre as leis do mundo. Foi então que os laços fraternais se fizeram mais fortes, Desânimo percebeu que Esperança não era para ele: eles eram muito diferentes. Ele sabia que não adiantava lutar por algo se, no final, o fracasso já estava garantido; Ela acreditava que nunca se poderia desistir de algo no qual se acredita....

Dessa forma cresceram e tornaram-se adultos. Desespero conheceu uma moça que compartilhava sua visão de mundo – Ignorância. Juntaram-se, formaram uma banda de rock melódico e atualmente espalham sua mensagem pelo planeta. Depressão finalmente se apaixonou. Casou-se com o Desencanto e teve dois filhos: Desalento e Solidão. E ninguém pode dizer que foram felizes para sempre, pois eles nunca acreditaram na Felicidade.

À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933)  O que esperamos na ágora reunidos?  É que os bárbaros chegam hoje.  Por que tanta apatia no senado?  Os s...