quinta-feira, 25 de maio de 2006

Existencialismo I

ou O estrago causado ao pensamento em decorrência da falta de Fanta Laranja

A abstinência de Fanta Laranja no meu sistema nervoso tem feito um estrago grande em minha sanidade*. Por isso, e talvez como forma de catarse, resolvi registrar mais uma vez meus devaneios aqui. Tenho pensado muito a respeito do existencialismo, principalmente sobre a questão da responsabilidade pelas escolhas e a sua relação com o que definimos por 'destino'.

Acho que estamos perdendo as virtudes de vivermos apaixonadamente; de assumirmos a responsabilidade por quem somos, de tentarmos realizar algo e nos sentirmos bem em relação à vida. O existencialismo é, às vezes, visto como uma filosofia do desespero, mas eu penso que é o contrário. O que ele nos ensina não é que deve existir um sentimento de angústia pela vida, mas sim que devemos encará-la como se ela fosse uma obra aberta, pronta para ser criada e, se preciso, redefinida.

De acordo com Sartre, cada escolha carrega consigo uma responsabilidade. Se escolho ficar em casa dormindo ao invés de ir trabalhar, falar alguma coisa ou escrever nesse blog, tenho que ter consciência de que qualquer conseqüência desses atos terá sido resultado de minha própria escolha. E ao colocar cada escolha em ação provoco mudanças no mundo que não podem ser desfeitas. Não posso, segundo o existencialismo, atribuir a responsabilidade por estes atos a nenhuma força externa, ao destino ou a Deus. A essência da responsabilidade segundo os existencialistas é que eu, por minha vontade e escolha ajo no mundo e afeto o mundo todo. É uma responsabilidade da qual não posso fugir.

Sempre tenho uma incômoda sensação de que algo essencial está sendo deixado de fora do modo como vivemos (ou pelo menos do modo como vivo). Quanto mais se fala sobre o ser humano como um ser social ou como fragmentado ou marginalizado abre-se todo um novo universo de desculpas. E esse talvez seja o ponto: por que sempre complicamos e criamos desculpas? Por que as decisões que tomamos têm que ser influenciadas pelo Outro?

Quando Sartre fala de responsabilidade, não é abstrato. Não se trata do tipo de 'eu' ou de 'alma' de que falam as religiões. É algo concreto. Somos nós, falando, tomando decisões e assumindo as conseqüências. Acho que a mensagem é que não devemos jamais nos eximir da responsabilidade com nós mesmos, e nos vermos como vítimas de várias forças.

Quem nós somos é sempre uma decisão nossa.



*Teria a Coca-cola tido a audácia de cancelar a produção desse doce e alaranjado líquido sem consultar a opinião de seu maior consumidor [ou seja, eu]?

3 comentários:

Anônimo disse...

Somos responsáveis também por nossos pais, pela educação que recebemos, pelos traumas que nos submeteram? Fosse somente responsabilidade nossas, não haveriam prisões e sanatórios. Posso resolver algumas coisas, se decido que sim, mas não posso avaliar o problema de outros. Responsabilidade em saber da minha vida, e não julgar a dos outros, também. Não é tudo tão simples, me parece. Por sorte sou humilde.
rogs

Marcos disse...

Prezado ROGS,
Somos responsaveis por nossos atos e nossas decisoes. Como voce mesmo disse, temos a resposabilidade de sabermos de nossas proprias vidas e nao das dos outros. A forma como reagimos diante das incertezas da vida dependem das estruturas racional e emocional de cada um. Acredito que é correto afirmar que em nossas decisoes somos afetados por fatores externos, mas tambem acredito que sempre seremos NÓS que nos posicionaremos diante dessas decisoes. Não sei se isso é válido para as pessoas que nao possuem controle sobre seus atos, como os loucos, mas tenho certeza que alguem que comete um crime tem consciencia do que esta fazendo. É justamente por esses motivos que acredito na existencia de sanatorios e prisoes e, mais que isso, que tenho a humildade de aceitar a ideia de que somos responsáveis por nossas decisoes.
Até a próxima.
Marcos

P.S.: identifique-se. É estranho conversar com uma sigla...

Anônimo disse...

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