terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Mini conto kafkiano

Quase nunca Deus, ou quem quer que tenha forjado esse mundo, escuta nossas preces. Ou, se o faz, faz no momento errado, quando o desejo não é mais tão forte ou quando não é mais possível se alegrar com ele. Naquela noite, aproximei-me da igreja com suspeita e, como sempre, apresentei meus pedidos a Deus. Há tanto tempo que pedia, que eu não sabia mais o que oferecer em troca. Voltei para casa e rezei até o amanhecer, e fiz isso com fervor. Eu queria uma coisa, apenas uma coisa e Ele sabia o que era... Quando ela chegou, fiquei mais assustado do que contente. Há tanto tempo a havia pedido ao meu Deus, e há tanto tempo ela me havia sido negado... No entanto, agora pude ver seu rosto. Talvez seja aquilo que dizem no ditado sobre Deus escrever certo por linhas tortas ou sobre Ele saber o que faz... Por uma vida inteira acreditei merecer o Paraíso, mas o monstro que recebi em atendimento às minhas súplicas não pode ter vindo de outro lugar senão do Inferno.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Paura

São quase duas da manhã e não tenho sono. Um pensamento recorrente explode em meu cérebro; preciso colocá-lo para fora, mas não sei como. Quero externá-lo, mas acho que já o esqueci. Não sei explicar... é como se a cabeça fosse mais pesada do que o que o pescoço pode agüentar. Como uma novidade que esqueci de contar e que talvez, por isso, tenha perdido seu efeito. Minha mente me confunde e não consigo encontrar o pensamento que me aflige. Mas é só parar de pensar e ele aparece.

Essa não é a primeira vez que isso acontece e isso me deixa bastante nervoso. Quando tento me concentrar, as palavras me abandonam. Será que é apenas um sonho ou algo que aconteceu há muito tempo? Será que é aquilo que Freud chama de lembranças encobridoras? Mas, nesse caso, eu deveria ter, ao menos, algum pensamento que me fizesse esquecer aquilo que tento lembrar.

Talvez não consiga colocá-lo para fora porque tenho medo. Tenho medo dos meus pensamentos, de minhas idéias. Medo daquilo que penso e que talvez não seja justo. Medo do que creio ter razão, pois talvez o que eu creia não seja tão racional assim. Medo do que escuto e do que digo por que não tenho certeza se o que digo é o que realmente penso. Tenho medo dos meus pensamentos por que eles não escondem quem eu esqueci que sou.

À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933)  O que esperamos na ágora reunidos?  É que os bárbaros chegam hoje.  Por que tanta apatia no senado?  Os s...