sábado, 21 de junho de 2008

Hora severa

Rainer Maria Rilke

Quem agora chora em algum lugar no mundo,
sem motivo chora no mundo,
chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,
sem motivo ri na noite,
se ri de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
sem motivo caminha no mundo:
caminha até mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
sem motivo morre no mundo,
olha para mim.


Ernste Stunde
Rainer Maria Rilke

Wer jetzt weint irgendwo in der Welt,
ohne Grund weint in der Welt,
weint über mich.

Wer jetzt lacht irgendwo in der Nacht,
ohne Grund lacht in der Nacht,
lacht mich aus.

Wer jetzt geht irgendwo in der Welt,
ohne Grund geht in der Welt,
geht zu mir.

Wer jetzt stirbt irgendwo in der Welt,
ohne Grund stirbt in der Welt:
sieht mich an.

Rainer Maria Rilke, Mitte Oktober 1900, Berlin-Schmargendorf

domingo, 15 de junho de 2008

O momento da criação poética

Bob Dylan em trecho do filme "No direction home", Martin Scorsese.



I'm looking for a place that will "collect, clip, bath," and return my dog, KN1-7727, cigarettes and tobacco. Animals and birds bought or sold on commission.

I want a dog that's gonna collect and clean my bath, return my cigarette and give tobacco to my animals and then give my birds a commission.

I'm looking for somebody to sell my dog, collect my clip, buy my animal, and straighten out my bird.

I'm looking for a place to bathe my bird, buy my dog, collect my clip, sell me cigarettes and commission my bath.

I'm looking for a place that's going to collect my commission, sell my dog, burn my bird, and sell me to the cigarette.

Going to bird my buy, collect my will, and bathe my commission.

I'm looking for a place that's going to animal my soul, knit my return, bathe my foot, and collect my dog. Commission me to sell my animals, to the bird to clip and buy my bath and return me back to the cigarettes.

Procuro um lugar que "arrume, corte o pêlo, dê banho" e devolva meu cachorro, KN1-7727. Cigarros e tabaco. "Vendemos e compramos pássaros em comissão."

Eu quero um cachorro que arrume e limpe meu banheiro e devolva meu cigarro dê tabaco aos meus animais e aí dê uma comissão aos meus pássaros.

Procuro alguém que venda meu cachorro corte meu cabelo, compre meu animal e enderece ao meu pássaro.

Procuro um lugar que dê banho no meu pássaro compre meu cachorro, corte meu cabelo me venda cigarros e dê comissão ao meu banho.

Procuro um lugar que recolha minha comissão, venda meu cachorro, queime meu pássaro e me venda ao cigarro.

Vou passarear minha compra, pegar meu desejo, e dar banho na minha comissão.

Procuro um lugar que animalize minha alma, enlace meu retorno, lave meu pé e arrume meu cachorro. Me dê uma comissão por vender meus animais, ao pássaro por cortar e comprar meu banho e me devolver aos cigarros.

sábado, 7 de junho de 2008

Sobre meninos e homens

Hoje quando voltava para casa depois da aula de violão, parei o carro no semáforo e, enquanto esperava, vi algumas crianças. Uns três meninos estavam do lado de fora do portão de uma casa e dentro havia três ou quatro meninas. Se fosse apenas isso, não haveria nada de mais, o que me chamou a atenção foi que os meninos atiravam pedrinhas nas meninas.

Após o choque inicial, parei para tentar entender aquilo e cheguei a conclusão de que essa era a forma, por mais estranha que possa parecer, que eles encontraram para expressar o interesse por elas; um jeito de dizer: “Oi, achei você muito bonita! Quero te conhecer”, no mais grosseiro estilo de um menino de 11 anos (que nesse aspecto, não se distingue muito de suas versões crescidas, talvez apenas pelo tamanho das pedras).

O fato é que aquilo me fez pensar no modo como nos relacionamos com aqueles que gostamos. Por que é tão difícil conversar com outra pessoa de forma sadia e natural? Por que custa tanto se desarmar e se aproximar de quem se gosta/ama para simplesmente dizer de maneira franca aquilo que se sente?

Talvez seja mais fácil responder com pedra a um “saidaquifidaputa” do que enfrentar a incerteza do que poderia advir a um “Oi, meu nome é... queria te conhecer melhor”.

À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933)  O que esperamos na ágora reunidos?  É que os bárbaros chegam hoje.  Por que tanta apatia no senado?  Os s...