domingo, 24 de junho de 2012

A chuva


Jorge Luis Borges

Bruscamente tem a tarde se iluminado
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
que sem dúvidas acontece no passado.

Quem a ouve cair, terá recordado
o tempo em que a sorte venturosa
lhe revelou uma flor chamada rosa
e a curiosa cor do avermelhado.

Esta chuva que cega os cristais
Alegrará em perdidos confins
as negras uvas de uma parreira em certo
pátio que já não existe. A molhada
tarde me traz a voz, a voz desejada,
de meu pai que volta e que não está morto.

La Lluvia
Jorge Luis Borges
Bruscamente la tarde se ha aclarado
porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
que sin duda sucede en el pasado.
Quien la oye caer ha recobrado
el tiempo en que la suerte venturosa
le reveló una flor llamada rosa
y el curioso color del colorado.
Esta lluvia que ciega los cristales
alegrará en perdidos arrabales
las negras uvas de una parra en cierto
patio que ya no existe. La mojada
tarde me trae la voz, la voz deseada,
de mi padre que vuelve y que no ha muerto
. 
Jorge Luis Borges, In: “El hacedor”, 1960.

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